O ator e dublador de São Paulo (SP), Gabriel Moreira, entrevistou para o canal do Youtube, Dub do Ruivo, o ator, locutor, narrador e dublador, HEITOR SCHMIDT.
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2020 – ANACRÔNICO SINCRÔNICO
O espetáculo nasce de uma pergunta: que história conta a memória? Esse disparador propõe o encontro das referências pessoais que também problematizam a relação entre a dança e o teatro e as divisões e fusões entre expressões artísticas que fazem parte desta narrativa. A performance acende processos de transformação de vida na memória corporal e criativa dos atores.
Anacrônico Sincrônico foi produzido para o projeto A Casa Dança da Casa de Cultura Mario Quintana, de Porto Alegre – RS
Criação e atuação:
CIBELE SASTRE e HEITOR SCHMIDT
Direção:
CIBELE SASTRE
CAFÉ.
Ouço por aí que o aroma do café pode ser tão prazeroso quanto o sabor da bebida. Tenho dúvidas e não discuto.
Lembro de uma manhã de inverno. O café ainda frio e seco antes de passar pelo filtro. O aroma escapa da caixa, aperta minha garganta e as pernas bambeiam com o cheiro do pó libertado de um vácuo, depois de meses.
Várias décadas interrompem a mão e a colher topetuda. São poucos segundos. A visão do café, da xícara, do coador e do bule amassado é esfumaçada por uma paisagem em sépia. Formigas desenham tatuagens abaixo dos meus olhos. Cócegas ou lágrimas? A memória escorre. O pó de café passa por uma ampulheta.
O cenário se transforma. Na rua, um pedaço de vida com sete anos a caminho da escola. O menino diminui os passos e exercita a leitura. No alto de uma parede velha, em maiúsculas: torrefação e moagem de café. Um cheiro amargo atravessa as janelas e o acompanha até o final do quarteirão. Na volta, o encontro se repete. Ele sempre diminui a velocidade quando passa pela frente do que chamam de fábrica de café. O letreiro continua igual. O cheiro do café torrado gruda no uniforme e se esconde em alguma folha de caderno. Ainda bem que não é como mancha de tinta de caneta que não desaparece do uniforme e deixa sua mãe furiosa.
Na cozinha, outra vez. Com os olhos fechados, aproximo o nariz do pacote. Tento aprisionar o aroma. Busco mais. Em uma piscada e meia volto para a rua da cidadezinha. Nenhuma carroça, nenhum cocô de cachorro, nenhum tropeção. Eu e minhas narinas frias puxando o cheiro forte.
Olhar desfocado agora no pó que escorrega da colher para o coador. Água na temperatura certa. O passado no cheiro e na espuma. O perfume sobe.
Uma escada de madeira alcança o letreiro na fábrica de café.
Na mesa, a xícara está com a asa virada para a esquerda.
PALCO E PLATEIA
Nos primeiros anos de escola, as professoras gostavam de me chamar para leituras em voz alta. A princípio não precisava sair do meu lugar na sala de aula. Ficava em pé e lia. Parecia fácil. Depois era chamado para ler de frente para toda a turma, ao lado da professora. Sempre gostei de sentar nas últimas filas. A trajetória em passos lentos, a princípio carregada de tensão, foi se transformando em algo mais divertido. Na volta para o meu lugar no fundo da sala, ouvia piadinhas e alguns elogios. Foram meus primeiros contatos com um tipo de palco e uma plateia.
A estreia num palco de verdade, com toda a escola assistindo, aconteceu numa apresentação da minha turma do segundo ano primário com a Dança do Pezinho. Tínhamos que dançar e cantar. A boa lembrança é que, apesar das exigências da professora, fazíamos tudo brincando.
O PRIMEIRO GOLPE
Santa Maria – RS, 31 de março de 1964. A imagem é nítida na memória: meu pai chegando no dia seguinte muito mais cedo em casa. Funcionário público estadual, ele costumava me pegar no colo perto do meio-dia, mas naquela manhã as portas do escritório da CEEE[1] foram interditadas, guarnecidas por soldados do Exército Brasileiro. Jamais esqueci as palavras de um pai assustado e triste pelo golpe militar que mergulharia o país numa ditadura de duas décadas: “Não consegui entrar. Os soldados estavam de baioneta calada e arma embalada”.
Pela sacada eu acompanhava os tanques de guerra e suas lagartas[2] machucando o asfalto, viaturas verde-escuro para cima e para baixo e centenas de soldados pelas ruas. Num dos quartos do apartamento, minha avó materna doente, “desenganada” segundo os médicos. Meu vocabulário aumentava: flebite, gangrena, trombose, morfina. Aprendi a escrever aos quatro anos e a primeira palavra organizada no chão com palitos de fósforos foi o nome de minha avó: Almerinda.
[1] Companhia Estadual de Distribuição de Energia Elétrica. Atualmente é a concessionária dos serviços de distribuição de energia elétrica na região sul-sudeste do Estado do Rio Grande do Sul.
[2] De acordo com o Dicionário Aurélio, lagarta é um dispositivo que facilita a circulação das rodas dos tratores ou dos tanques, fazendo que se movam em terrenos inacessíveis a viaturas comuns.
TRUPE TRANSFORMARTE – OFICINA CCMQ – 2016
O Teatro Espontâneo capacita pessoas e grupos a terem um comportamento mais espontâneo e criativo, ampliando os resultados em todos os setores de uma empresa ou instituição.
O treinamento utiliza técnicas teatrais, muitas delas comuns à preparação de atores e seus papeis.
A diferença está no foco: ao invés de preparar para o palco, o Teatro Espontâneo torna os indivíduos e equipes capazes de “jogar” com situações emergentes, em um cenário real.
OFICINA
Oficina de Teatro Espontâneo – ministrada por Artur José Pinto e Trupe Transformarte – Casa de Cultura Mario Quintana – Porto Alegre – RS – Brasil
TEATRO ESPONTÂNEO – CULTURA DOADORA – FUNDAÇÃO ECARTA
OFICINA ENSAIO
24 e 25 de abril de 2013
Local – Fundação ECARTA
Porto Alegre – RS
Ministrada pelo ator, dramaturgo, diretor de teatro e especialista em Psicodrama ARTUR JOSÉ PINTO e equipe (Denise Santos e Heitor Schmidt) a oficina apresentou os conteúdos específicos do Teatro Espontâneo para o trabalho efetivo do tema Cultura Doadora (doação de órgãos e tecidos). A metodologia aproveitou a experiência dos professores participantes, suas bagagens artísticas e pedagógicas, a fim de se criar a estética do trabalho a ser proposto nas escolas.