Texto: Oskar Panizza
Direcao: Néstor Monastério
Elenco:
Alexandre Bado
Fernanda Carvalho Leite
Gutto Basso
Heitor Schmidt
Luciana Kunst
Rodrigo Pessin
Vera Carvalho
Cenografia: Rodrigo Lopes
Figurinos (Concepção): Sérgio Lopes
Figurinos (Execução): Liga Rigo e Val Schneider
Duração: 1h25min
O Concílio do Amor – (Foto: Cristina Lima)
Rádio – spot 30″ – O Concílio do Amor (Loc. Heitor Schmidt)
[audio https://dl.dropboxusercontent.com/u/20028812/Locs%20Teatro/Concilio%20do%20Amor_Spot%2030_Agosto.mp3|artists=SPOT 30 – O Concílio do Amor]
O preço da culpa
“O Concílio do Amor” está no Renascença
(RENATO MENDONÇA – ZERO HORA – 14 de março de 2003)
Depois de lotar o Theatro São Pedro durante o Porto Verão Alegre, a montagem O Concílio do Amor volta a cartaz, agora no Teatro Renascença.
Voltou para provar que o sucesso se justifica, que Néstor Monasterio é um ótimo diretor e que o texto de Oskar Panizza sente o peso dos anos.
O núcleo da trama é o encontro de Deus, Maria, Jesus e o Diabo para decidir que castigo seria infringido aos homens, na tentativa de pôr freio à dissolução dos costumes que reinava na corte do Papa Alexandre VI, no século 15. A solução do belzebu: associar o sexo a uma doença mortal. Na época, a peste tinha o nome de sífilis, hoje, atende por Aids, mas o importante no Concílio é mesmo a doença que leva homens e deuses a acreditar no que é fachada, no ritual que só serve para distrair.
Monasterio coloca tudo isso em cena: Deus é entrevado e caquético, Jesus se esforça para não perder a pose de crucificado, Maria luta para manter o sorriso beatífico. Só o diabo se dá o direito de ser contraditório e complexo. A direção desenha os movimentos com habilidade e extrai do elenco um olhar ora devasso, ora ingênuo, com destaque para Heitor Schmidt (como o demo) e Rodrigo Pessin (que garante o timing da comédia). A encenação tem seus bons truques: torres de tubulados facilitam o trânsito entre Céu, Terra e Inferno.
A cena final, quando o castigo chega em forma de mulher nua, com o sexo oculto apenas por um crucifixo, se justifica. Era como Panizza enxergava a ação da Igreja Católica – um jogo de espelhos entre fé e desejo, a exigir uma decisão desnecessária entre espírito e desejo. O Concílio do Amor está de sexta a domingo, às 21h, no Renascença (Erico Verissimo, 307). Ingressos a R$ 15, com desconto de 30% para o Clube do Assinante.
Voltou para provar que o sucesso se justifica, que Néstor Monasterio é um ótimo diretor e que o texto de Oskar Panizza sente o peso dos anos.
O núcleo da trama é o encontro de Deus, Maria, Jesus e o Diabo para decidir que castigo seria infringido aos homens, na tentativa de pôr freio à dissolução dos costumes que reinava na corte do Papa Alexandre VI, no século 15. A solução do belzebu: associar o sexo a uma doença mortal. Na época, a peste tinha o nome de sífilis, hoje, atende por Aids, mas o importante no Concílio é mesmo a doença que leva homens e deuses a acreditar no que é fachada, no ritual que só serve para distrair.
Monasterio coloca tudo isso em cena: Deus é entrevado e caquético, Jesus se esforça para não perder a pose de crucificado, Maria luta para manter o sorriso beatífico. Só o diabo se dá o direito de ser contraditório e complexo. A direção desenha os movimentos com habilidade e extrai do elenco um olhar ora devasso, ora ingênuo, com destaque para Heitor Schmidt (como o demo) e Rodrigo Pessin (que garante o timing da comédia). A encenação tem seus bons truques: torres de tubulados facilitam o trânsito entre Céu, Terra e Inferno.
A cena final, quando o castigo chega em forma de mulher nua, com o sexo oculto apenas por um crucifixo, se justifica. Era como Panizza enxergava a ação da Igreja Católica – um jogo de espelhos entre fé e desejo, a exigir uma decisão desnecessária entre espírito e desejo. O Concílio do Amor está de sexta a domingo, às 21h, no Renascença (Erico Verissimo, 307). Ingressos a R$ 15, com desconto de 30% para o Clube do Assinante.
JORNAL DO COMÉRCIO
Teatro/Crítica – (Antonio Hohlfeldt)
03 de março de 2003
Simplesmente brilhante
Não encontrei o nome de Oskar Panizza em nenhuma enciclopédia ou dicionário de teatro. Nem mesmo a Brittanica traz seu registro. No entanto, ele certamente existiu e, dentre tantas coisas que deve ter praticado, escreveu uma peça denominada “O concílio do amor”, que Nestor Monastério descobriu e encenou, com excepcional resultado, e que pôde ser visto no palco do Theatro São Pedro. Não sei o quanto do diretor está neste espetáculo e o quanto existe do texto original do dramaturgo, simplesmente porque o desconheço. De todo o modo, fica-se surpreendido com o texto em si, pela ironia ferina, pela profundidade da reflexão – que tanto é objetivo quanto filosófico, como no grande “bife” dado pelo demônio, aí pela metade da peça – e, enfim, pela atualidade do tema que discute, se substituirmos a sífilis de então pela Aids de hoje em dia, até porque a principal preocupação do autor não é esta ou aquela doença, mas sim uma maior e mais perseverante, o cinismo e as mentiras de que se valem toda e qualquer religião para subsistir. Aliás, a encenação já andou movimentando alguns circuitos religiosos mais conservadores, que pelo jeito querem reeditar o Index da Inquisição em pleno século XXI! Seja lá o que for que tiver de Panizza e de Monastério, o certo é que o resultado final é simplesmente brilhante. A cenografia de Rodrigo Lopes cria um “céu” provisório, como que sempre em obras, graças àqueles andaimes. Os figurinos de Sérgio Lopes reforçam essa impressão de coisa em decomposição, como sugerem as primeiras falas de Deus. A coreografia de Jussara Miranda está atenta ao detalhe, como aquele arrastar de pés com que um dos anjos, Alexandre Bado, marca sua saída, levando Maria com o filho deposto da cruz. A preparação corporal de Fernanda Carvalho Leite, que igualmente interpreta uma literalmente lasciva e ingênua Lucrecia Bórgia – ela estupenda, aliás, como sempre – permite os malabarismos dos atores em cena com absoluta naturalidade. Guto Basso vive um Deus caquético, vingativo e intolerante; Luciana Kunst é uma Virgem Maria inteligente, sensível e ardilosa; Rodrigo Pessin, com algumas dificuldades, interpreta um Jesus mortificado, meio idiota e deslocado; Vera Carvalho completa a dupla de anjos com muita sensualidade quando em outros papéis. Heitor Schmidt – disparado o melhor intérprete de todos – vive o demônio. Sua passagem antológica, aquele “bife” já mencionado, na metade do espetáculo, é inesquecível. Sua composição, entre realista e simbólica, permite ao intérprete uma corporificação inesquecível. Nestor Monastério, um de nossos melhores realizadores cênicos, reafirma sua competência, sua criatividade e, sobretudo, seu senso de oportunidade. “O concílio do amor” desponta, desde logo, como dos melhores espetáculos da temporada, com direito a muitas reprises.
O inferno – (Foto: Cristina Lima)

Diabo (Heitor Schmidt) e Deus (Gutto Basso) – foto: Cristina Lima

O Diabo (Heitor Schmidt) e Deus (Gutto Basso) – foto: Cristina Lima

Heitor Schmidt, Fernanda Carvalho Leite, Vera Carvalho, Guto Basso, Alexandre Bado e Luciana Kunst

Maria (Luciana Kunst) e o Diabo (Heitor Schmidt) – Foto: Cláudio Fachel)