Texto: CARLOS CARVALHO
Direção: NÉSTOR MONASTERIO
Produção: Grupo Abrindo Brecha – Ijuí-RS
ELENCO:
Carlos Becker
Daisy Barella da Silva
Heitor Schmidt
Cida Mendes
música: Néstor Monasterio
arranjos: Letieres Leite
músicos: Letieres Leite, Dudu Trentin, Quéço
figurinos: Arno Sérgio Höerlle e Reneé El Ammar
perucas (confecção): Irene Lucchese
operação de luz: Vladinei Weschenfelder
operação de som: Marco Frota
contra-regra: Valesca da Silva
programação visual: Moisés Mendes



CRÍTICA
UM ESPETÁCULO CATIVANTE
O Grupo de Teatro Abrindo Brecha nesta sua mais corajosa e arrojada produção, consegue efetivamente transformar o espetáculo numa grande brincadeira, que diverte crianças, jovens e também os adultos. O grupo investiu alto, deu tudo de si e apostou no próprio talento. O primeiro passo foi a contratação do jovem diretor Néstor Monasterio, que acabou se envolvendo nos mínimos detalhes da produção, acompanhando a confecção dos figurinos e adereços, além, é claro, de preparar os atores, que com ele aprenderam a cantar, a dançar, a fazer mímica e a elaborar o seu trabalho de interpretação. O resultado está esplêndido. O espetáculo cativa desde a primeira cena. O público mergulha no mundo do sonho, da imaginação e da fantasia quando a cortina se abre e o palco mostra os dois palhaços dormindo. Logo, é envolvido pela música e pela proposta “onde estás que não te vejo, sinto falta dos teus beijos, ai que dor…” O espetáculo fecha com a mesma cena, a brincadeira terminou, mas a mensagem de alegria permanece no coração das crianças.
(…)
“A essência do teatro é o circo. A essência do circo, o palhaço. O palhaço é uma criança-adulta que pode fazer o que o consciente reprime. Ele pode se divertir por nada, rir por tudo e chorar por isso. O palhaço tudo transforma, tudo molda em seu mundo direto, simples e singelo”, afirma Néstor Monasterio.
“E nossos palhaços entrarão no mundo desses duendes chamados crianças, e transformarão, como eles o fazem, pincéis em lanças, borrachas em pessoas, lápis em liteiras. E viajarão com Dom Quixote e brincarão com Romeu e Julieta”.
(…)
Os quatro palhaços – Salsicha, Bartolo, Meio Litro e Chucrut – transformam a realidade e vivem em cena os personagens que vão saindo de um grande livro de histórias e também de seus sonhos. para criar este clima, funcionam de maneira extraordinária os belos figurinos recriados e confeccionados por Reneé El Ammar, em cima da proposta de Arno Sérgio Höerlle, as perucas confeccionadas por Irene Lucchese e os maravilhosos adereços; a música, do próprio Néstor, com arranjos de Letieres Leite; a iluminação, criada por Néstor e operada por Vladinei Weschenfelder.
Para quem acompanha o trabalho do grupo Abrindo Brecha, desde Cadeiras Proibidas, passando por Eu Chovo, Tu Choves, Ele Chove e Bastam Dois para Dançar um Bom Bolero, Mil e Uma Histórias proporciona uma renovada satisfação. Transparece aqui nitidamente o novo salto de qualidade que o grupo consegue empreender, através de um melhor aproveitamento dos atores. E o responsável por isso é Néstor Monasterio. Foi a primeira experiência do grupo com um diretor que pouco conhecia de seu trabalho. E quem ganhou foi o próprio grupo, e, é claro, o público. Néstor conseguiu liberar a criatividade e as potencialidades dos quatro atores – todos realizam um excelente trabalho.
Cida Mendes está maravilhosa como Salsicha, conduzindo a narrativa com habilidade e desenvoltura. Daisy (Julieta e Cleópatra) está cativante, Carlos Becker faz um sensacional Dom Quixote, um terrível Drácula e um simpático palhaço Bartolo. Heitor Schmidt incendeia o palco com seu vibrante Nero e empolga o público com as demais interpretações de Sancho Pança, Romeu (fazendo ótima dupla de serviçais com Becker, ao lado de Dalila/Daisy), morcego e palhaço Chucrut.
Com este espetáculo, sem dúvida, o nosso Grupo de Teatro Abrindo Brecha mostra que está disposto a crescer sempre mais e se insere na linha dos grupos de frente do teatro gaúcho, que atravessa uma excelente fase.
(Regina Perondi – Jornal da Manhã – Ijuí/RS – 19.07.1986)

